10 de setembro – Rashōmon, de Akira Kurosawa

“Que dia é hoje?” – Capítulo 41

No dia 10 de setembro de 1951, o filme japonês “Rashōmon”, de Akira Kurosawa, recebeu o Leão de Ouro, a premiação de melhor filme do Festival Internacional de Cinema de Veneza. O Festival de Veneza, junto com Cannes (França) e Berlim (Alemanha), é considerado um dos três Grandes Festivais de Cinema do mundo.

O filme “Rashōmon” entrou em cartaz no Japão em 26 de agosto de 1950, e foi baseado em dois contos do escritor Ryunosuke Akutagawa: “Rashōmon” (羅生門) e “Yabu no naka” (藪の中, Dentro de um bosque). Curiosamente, nos créditos do filme, consta apenas que foi baseado em “Yabu no naka”.

A trama se desenvolve no Período Heian, girando em torno de um assassinato. Cada uma das personagens envolvidas, incluindo a viúva da vítima, vai contando a sua versão do ocorrido. Este formato de narrativa visto já no conto “Yabu no naka” passou a ser utilizado em diversos filmes e seriados, posteriormente.

Até surgiu um termo utilizado em psicologia, sociologia ou direito chamado “efeito Rashōmon” para descrever uma situação em que cada um coloca sua interpretação, gerando contradições, impedindo que se chegue ao que de fato aconteceu.

Alguns exemplos de efeito Rashōmon podem ser vistos em seriados como C.S.I.: Investigação Criminal (temporada 6 episódio 21), Plantão Médico (ER, temporada 8 episódio 1), ou até mesmo The Simpsons (temporada 10, episódio 23).

Kurosawa queria incorporar a beleza do cinema mudo ao filme. Assim, trabalhou forte a fotografia, junto com o cinematógrafo Kazuo Miyagawa. Uma das grandes inovações foi o uso das luzes. Naquela época era considerado um tabu direcionar a câmera diretamente ao sol, mas Miyagawa produziu uma imagem fascinante, do sol penetrando por entre as folhas das árvores, numa das cenas fortes do filme.

O temporal da cena inicial, nas ruínas do portal Rashōmon, também é impressionante. A produção misturou tinta preta para shodō (bokujyu) na água, para a chuva não “desaparecer” no branco do céu. As cenas de corrida no bosque também são marcantes.

A produtora Daiei não tinha o interesse em bancar a tradução e legendagem para concorrer ao Leão de Ouro (nem a outros festivais internacionais). A italiana Giuliana Stramigioli, presidente da produtora japonesa Italifilm, tirou do próprio bolso o custo de adaptação e a inscrição de Rashōmon, e o filme acabou sendo o grande vencedor, graças ao seu esforço.

Segundo a página do filme no Wikipédia em japonês, Kurosawa não sabia que o filme havia sido inscrito no festival, e nenhum representante estava presente na cerimônia de premiação. Logo, a organização do festival encontrou um homem vietnamita, que estava em Veneza por turismo, para receber o Leão de Ouro.

Foi a partir desta premiação, seguida pelo Oscar Honorário de 1952 para o mesmo filme, que o cinema japonês passou a ser conhecido mundialmente, e as produtoras japonesas também começaram a voltar os olhos ao mercado internacional.

Kurosawa chegou a dizer que ficou muito contente com a premiação, mas também questionou se o filme poderia ter vencido pelo elemento exótico, agradando à curiosidade dos ocidentais. E que estaria mais contente, se vencesse com filmes que mostrassem a realidade do Japão, como se vê nos filmes Paisà, de Roberto Rossellini, ou Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica, mostram sobre a Itália.
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