2 de novembro é Dia do Shodō!

“Hoje é Dia de Cultura Japonesa!” – Capítulo 73

Shodō (書道), literalmente, é o “Caminho da Escrita”, a arte de expressar o belo por meio da escrita. Existe também o termo Shūji (習字), que literalmente seria aprender / treinar a letra. Ambos são frequentemente traduzidos como caligrafia.

O dia 2 de novembro é o Dia do Shodō, e também do Shūji, devido ao goroawase. Pois 1 é “ichi”, de onde pegamos apenas o “i”. Como estamos no mês 11, dobramos a letra, tornando-se “ii”, que significa “bom” ou “boa”. 2 em japonês pode ser dito como “ji”, que é letra em japonês. Uma outra forma de dizer letra é “moji”. Então, 11/2 é o dia do “ii moji”, dia da boa letra. Até 2013, o Dia do Shodō era celebrado em 1º de setembro.

Ambos buscam o aperfeiçoamento na letra, mas uma das formas de diferenciar os conceitos seria de que o Shūji possui um padrão (お手本, otehon) de beleza “universal” a ser seguido. Já no Shodō, injetamos o nosso espírito e sentimentos na hora de escrever e, portanto, a personalidade ou características internas da pessoa transparecem na letra escrita.

Atualmente, quando falamos em Shūji, podemos dividir em Mōhitsu (毛筆), escrita por pincel, e Kōhitsu (硬筆), escrita com lápis ou caneta.

Existem 4 instrumentos básicos para a prática do Shodō com pincel. O “suzuri”, recipiente para colocar a tinta, o “fude”, que é o pincel, “kami”, o papel, e o “sumi”, que é a tinta. O sumi é utilizado num formato sólido, e transformar o sumi em tinta líquida misturando com água faz parte do treinamento. Porém, hoje em dia costuma ser substituído pelo “bokujyū”, a tinta pronta, pela praticidade. Além dos 4 materiais acima, utiliza-se o “bunchin”, peso para segurar o papel, e o feltro.

Existem diversas formas de escrita como o Kaisho (楷書, escritura regular), Gyōsho (行書, escritura semicursiva), Sōsho (草書, escritura cursiva, abreviada), Reisho (隷書, escritura clerical), Tensho (篆書, escritura de selo), e o Kana (かな, letra japonesa).

Ao longo da história, existiram diversos praticantes reconhecidos na arte da escrita, como o monge budista Kūkai (conhecido postumamente como Kōbō-Daishi, Séculos 8 e 9), o Imperador Saga (Séculos 8 e 9), Ono no Michikaze (conhecido como Ono no Tōfū, Séculos 9 e 10) e Sugawara no Michizane (séculos 9 e 10).

Kūkai, fundador da escola Shingon do budismo, é lembrado até em provérbios como “弘法筆を選ばず” (Kōbō Fudewo Erabazu), que pode ser traduzido como “Kōbō não escolhe seu pincel”. Ou seja, um grande mestre é bom naquilo que faz, independente da ferramenta utilizada.

Por outro lado, também existe o “弘法にも筆の誤り” (Kōbō nino Fudeno Ayamari), traduzido como “até mesmo um grande mestre como Kōbō pode errar”. Semelhante à expressão em latim: “aliquando dormitat Homerus”, que significa “até mesmo Homero cochila às vezes”.

Muitos praticantes, inclusive iniciantes, têm praticado o Shakyō (写経), a prática de copiar sutras budistas à mão, principalmente o Sutra da Perfeição da Sabedoria, também conhecido como Sutra do Coração (般若心経, Hannya Shingyō). Esta prática surgiu para difundir os ensinamentos budistas, mas, hoje em dia, o Shakkyō entra “em moda” de tempos em tempos, como prática de relaxamento ou para aumentar a concentração.

Existem diversos rituais anuais para desejar aperfeiçoamento da escrita. O “Kakizome” é a primeira escrita com pincel, realizada no Ano Novo, normalmente no dia 2 de janeiro. Já no dia 15 de janeiro, acontece o “Dontoyaki”, uma festividade onde se queima a letra escrita no Kakizome. Quanto mais a fumaça atingir pontos mais altos, a sua letra irá se tornar mais bonita.

No próprio Tanabata, conhecido como Festival das Estrelas, fazemos pedidos de diversos tipos nos dias atuais. Mas originalmente o desejo a ser feito era para melhorar a escrita. Por isso que precisamos escrever nossos desejos com nossas letras no tanzaku, as folhas de cinco cores.

Em 2019, a Aliança Cultural Brasil-Japão realizou dois eventos especiais ligados ao Shodō, no Centro Cultural Aliança. No dia 27 de abril, em homenagem à ascensão ao trono do novo Imperador Japonês Naruhito, e à chegada da Nova Era Reiwa (que se iniciou no dia 1º de Maio), realizamos o evento: “Reiwa, a Nova Era do Japão – A Escrita e o Significado”, com palestra de Alice Tsuchiya, coordenadora geral de Ensino da ACBJ, e demonstração de Shodō feita pelo Elcio Yoshitaka Yokoyama Sensei, nosso professor de Shodō.

O quadro com a palavra Reiwa escrita por Elcio Sensei na ocasião foi apresentada ao público geral nas duas celebrações oficiais da chegada da nova Era, realizadas pela comunidade nipo-brasileira: a celebração da passagem para a Era Reiwa (30 de abril) e a Comemoração à Entronização do Imperador do Japão (22 de outubro).

Já no dia 8 de agosto de 2019, em parceria com a Fundação Japão em São Paulo, realizamos a palestra “O Espírito da Caligrafia”, com o mestre Ryuho Hamano, do Japão. Na ocasião, o artista apresentou a transformação do kanji (ideograma) no decorrer dos anos e fez uma demonstração prática escrevendo em letras grandes um dos poemas da coletânea Manyōshu.

Atualmente existem conceitos modernos como o “Shodō Art” ou o “Design Shodō”, que nem sempre seguem os preceitos “tradicionais” do Shodō, combinando com ilustrações, arte computadorizada ou, até mesmo, letras do alfabeto.

Por exemplo, a artista Tomomi Kunishige criou o termo “eekanji” (英漢字), que significa letras chinesas e alfabeto utilizado em inglês, mas também um trocadilho com ええ感じ, “nada mal”, ou “passa uma boa impressão”, em dialeto de Kansai. Uma de suas obras famosas é o “”, o ideograma hana (flor), que ao olharmos atentamente, é composto pelas seis letras da palavra flower (flor em inglês). Esta arte foi utilizada no título da novela de época “Hana Moyu” (2015) da NHK. Veja como funciona, neste link.

Já o calígrafo Taizan Tanaka criou o Emoji, que, apesar de ter o mesmo som, não tem nada a ver com os desenhos que utilizamos nas redes sociais. O Emoji de Tanaka se escreve 笑文字 e a tradução seria letras de sorriso. Ele escreve as letras e desenha sorrisos nas letras escritas.

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