2 de setembro é o Dia do Sapato!

Sapato em japonês é kutsu (靴). 9 em japonês pode ser dito como kyu ou ku. 2 em inglês é two, mas, para os japoneses, tem uma leitura próxima de tsu. Assim, pelo goroawase (trocadilho numérico), juntando 9 e 2 temos kutsu. Logo, o dia 2 de setembro tornou-se o Dia do Sapato (靴の日) no Japão, por solicitação da empresa japonesa Diana, especializada em calçados femininos.

Em tempos de pandemia, o mundo todo passou a conhecer alguns hábitos comuns no Japão, como usar máscaras ou tirar o sapato antes de entrar nas residências.

No Japão, a porta de entrada das residências geralmente é aberta para fora, diferente das portas ocidentais que geralmente são abertas para dentro da casa. Esta diferença é importante para não invadir o genkan (玄関, leia-se guencam), local onde tiramos os sapatos. Em seguida, subimos um degrau, para entrar na “casa” do anfitrião.

Dentre diversas explicações ou simbolismos do genkan, podemos dizer que, ao subir um degrau, estamos entrando num lugar elevado, sagrado, do anfitrião. Assim, seria falta de respeito entrar na casa com o sapato, cheio de terra. A palavra dosoku (土足), literalmente “pé de terra”, é utilizada para esta situação em que o visitante não tira as impurezas antes de entrar num local sagrado.

Existe também a expressão 土足で踏み込む (dosoku de fumikomu). Esta expressão é usada metaforicamente quando fazemos perguntas invasivas, nos intrometendo na privacidade alheia. Ou seja, estamos entrando de “dosoku”, no sentimento das pessoas.

Mesmo nas escolas, não é permitido entrar de dosoku na maioria dos prédios. Neste caso, os alunos trocam o calçado pelo uwabaki, um calçado utilizado apenas internamente. A propósito, quando estamos nos prédios em que é necessário usar o uwabaki e precisamos fazer as necessidades, trocamos mais uma vez de calçado, para um chinelo que pode ser utilizado apenas dentro do toalete.

Muitos descendentes de japoneses devem ter escutado uma música infantil que começa com “Otete tsunaide…”. A letra desta música foi criada em 1919, e descreve a cena de crianças andando pelos campos de mãos dadas, emitindo o som dos sapatos (no atrito com o solo) e sentindo-se como passarinhos ou coelhinhos. Na verdade, o nome desta canção é “Kutsu ga naru” (“o sapato emite sons”), e não “Otete tsunaide” (“de mãos dadas”), como muitos confundem.

Existem calçados curiosos no Japão. A empresa de calçados Achilles criou, em 2003, um tênis chamado shunsoku (“corredor veloz”), feito especialmente para melhorar o desempenho das crianças, nas corridas em pista, no sentido anti-horário. O segredo está na posição assimétrica dos antiderrapantes na sola do tênis.

Yoshiro Nakamatsu, também conhecido como Dr. NakaMats (ドクター中松), é um inventor que criou um calçado conhecido como “flying shoes”, ou “PyonPyon”. Este possui suspensão em lâmina na sola, permitindo que o usuário consiga correr saltando.

O movimento #MeToo, contra o assédio sexual e a agressão sexual, teve grande destaque no Twitter em 2017. Em 2019, a atriz, modelo e escritora Yumi Ishikawa liderou o movimento #KuToo, protestando contra a obrigatoriedade das mulheres usarem saltos altos ou pumps em ambientes de trabalho.

KuToo, além de ser uma alusão ao MeToo, é um trocadilho com kutsu (sapato) e com kutsuu (苦痛, dor, sofrimento). O movimento teve grande repercussão mundial e Ishikawa entregou para o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão um abaixo assinado com 18.856 assinaturas, em junho do mesmo ano.

Uma sugestão de leitura sobre mercado de calçados, mais exatamente sobre tênis de corrida, é o romance “Rikuoh” (陸王), do Jun Ikeido, um dos mais badalados autores do Japão, principalmente pela série “Hanzawa Naoki”, cuja versão dorama está em destaque atualmente.

Neste momento de pandemia, muitas pessoas não estão usando seus calçados. Compartilhe conosco sua experiência com kutsu (sapato) com ou sem kutsuu (sofrimento).

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