30 de novembro é o Gegegeki!

“Hoje é Dia de Cultura Japonesa!” – Capítulo 81

O mangaká Shigeru Mizuki é um mangaká muito conhecido no Japão por suas obras sobre Yōkai (seres que representam a tentativa de explicar fenômenos sobrenaturais – vide nosso artigo do dia 8 de agosto), seus relatos de guerra quando lutou na Segunda Guerra Mundial, e diversos outros trabalhos.

O dia 30 de novembro de 2015 é a data de falecimento de Mizuki, ou a data em que ele retornou para o mundo dos Yōkai, segundo muitos fãs. Esta data é conhecida como Gegegeki (ゲゲゲ忌, leia-se Guegueguequi), Memorial do Gegege, em alusão à sua obra de maior sucesso: “Gegege no Kitarō” (ゲゲゲの鬼太郎).

Shigeru Mizuki (水木しげる) é o nome artístico de Shigeru Mura (武良茂), nascido em 8 de março de 1922, em Osaka, crescido na municipalidade de Sakaiminato, na província de Tottori.

Foi na infância em Sakaiminato que Mizuki conheceu Fusa Kageyama, conhecida como Nonnonba. Ela lhe contava histórias sobre os Yōkai, influenciando definitivamente a vida de Mizuki, que publicou um ensaio biográfico sobre sua convivência com a Nonnonba em 1977, o qual posteriormente virou novela e mangá. A obra “Nonnonba” está disponível para o público brasileiro pelo selo Tsuru, da Editora Devir.

Durante a Segunda Guerra Mundial, foi enviado para Rabaul, na Papua Nova Guiné, onde perdeu o seu braço esquerdo. As experiências de guerra foram registradas no livro Rabauru Senki (ラバウル戦記, Memórias de Rabaul) e em diversos outros mangás de sua autoria, com destaque para “Marcha Para a Morte” (総員玉砕せよ!), premiado pelo Festival Internacional de Quadrinhos de Angolema, em 2009, e pelo Eisner Award, em 2012. Esta obra também está disponível em português pelo selo Tsuru, da Devir.

Após o retorno ao Japão, desistiu do sonho de ser um pintor, e, para sobreviver, passou a desenhar Kamishibai (紙芝居, literalmente, “teatro de papel”, em que o narrador conta a história usando desenhos para mostrar o que está acontecendo) e Kasihon Mangá (貸本漫画, literalmente, mangás para empréstimo – no pós-guerra, os mangás ainda não eram para ser adquiridos, mas para ser alugados). Foi neste período que começou a desenhar “Hakaba no Kitarō”, base para o futuro “Gegege no Kitarō”.

Casou-se com Nunoe Iizuka em 1961. Em 2008, ela lançou um livro biográfico chamado “Gegege no Nyōbō” (ゲゲゲの女房), literalmente, “A esposa do Gegege”, que obteve grande repercussão ao ponto de ser adaptado para um dorama na NHK, um filme e uma peça de teatro, respectivamente estrelados pelas atrizes Nao Matsushita, Kazue Fukiishi e Miki Mizuno. A palavra Gegege foi escolhida como a palavra / expressão do ano, em 2010.

A década de 1960 ficou marcada na história do mangá japonês pelo surgimento e pela competição de duas das três grandes revistas semanais de mangá do Japão: a Weekly Shonen Magazine e a Weekly Shonen Sunday, ambas criadas em 1959. A terceira revista é a Weekly Shonen Jump, que surgiu em 1968.

Em 1967, Mizuki passou a publicar Kitarō na Weekly Shonen Magazine e, em 1968, “Kappa no Sanpei” na Weekly Shonen Sunday, simultaneamente. Isso, aliado ao grande sucesso da adaptação para televisão do mangá “Akumakun” (obra que mescla seres sobrenaturais de diversas partes do mundo, inclusive os próprios Yōkai), em 1966, consolidou a fama de Mizuki como um dos maiores divulgadores de Yōkai, do Japão.

Entretanto, há críticas que dizem que Mizuki “destruiu” a tradição / o folclore, transformando os Yōkai em “produtos”. Cabe mencionar que muitos dos personagens de Mizuki são releituras do autor, por vezes totalmente diferente do conceito “original” do Yōkai. Por exemplo, o Nezumi Otoko (Homem Rato), o personagem preferido de Mizuki e um dos coadjuvantes mais populares, é uma criação do mangaká. Já o Yōkai Nurikabe, na versão original no folclore de Kyushu, é um fenômeno que impede que as pessoas passem por certo caminho, como se fosse uma parede invisível. Na versão de Mizuki, o Nurikabe é um personagem com a aparência de uma parede, sendo visível.

De qualquer forma, Mizuki tem grande importância por ter dado visibilidade à cultura do Yōkai.

Mizuki é conhecido por aplicar técnicas de pontilhismo (点描, tenbyō) em suas obras. Premiados mangakás como Yoshiharu Tsuge (“O Homem sem talento”, disponível no Brasil pela Editora Veneta) e Ryoichi Ikegami (“Crying Freeman e Mai – Garota Sensitiva”) foram assistentes de Mizuki.

Quando pensamos na rotina de vida de mangakás japoneses, muitas vezes os imaginamos trabalhando incansavelmente, ficando acordados por mais de 30 horas seguidas para cumprir os prazos. Porém, Mizuki foi pelo caminho oposto e sempre fez questão de dormir pelo menos 10 horas por dia. Mizuki viveu até os 93 anos. Ele chegou a dar sermões aos mangakás contemporâneos como Osamu Tezuka e Shotaro Ishinomori, ambos falecidos com 60 anos, pois estes valorizavam o fato de trabalhar dormindo pouco.

Mizuki chegou a supervisionar uma cena do filme de animação “Pompoko: A Grande Batalha dos Guaxinins”, do Studio Ghibli (Direção de Isao Takahata), sendo que um dos personagens do filme foi inspirado nele. Este filme está disponível na Netflix.

Dois pontos turísticos que valem a pena ser visitados pelos fãs de Mizuki ou de Yōkai em geral são o Mizuki Shigeru Road e o museu Mizuki Shigeru Kinenkan, ambos em Sakaiminato, província de Tottori. Em diversas partes da cidade, é possível encontrar estátuas de Yōkai e de personagens criados por Mizuki, além da estátua do casal Shigeru e Nunoe.

 


 

Veja nossos artigos anteriores no site da Aliança (link na bio):

24 de julho – Kappaki (Capítulo 7)

6 de agosto – Hiroshima (Capítulo 17)

8 de agosto – Yōkai (Capítulo 19)

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