8 de novembro é o Dia dos Objetos Cortantes!

“Hoje é Dia de Cultura Japonesa!” – Capítulo 76

Os objetos cortantes em japonês são chamados de “hamono” (刃物, leia-se rámono). “Há” (刃) significa lâmina, fio, gume. “Mono” é objeto. A data foi escolhida por dois motivos. O primeiro motivo é o goroawase (trocadilho numérico). Pois 11 pode ser lido como “ii”, que é bom, boa. 8, em japonês, é “hachi”, de onde tiramos a primeira sílaba “ha”. Então 11/8 é “ii ha”, o dia da boa lâmina. Como “ha” também pode ser dente, hoje também é o dia do bom dente.

O outro motivo é que desde a época que o Japão ainda adotava o calendário lunar, o dia 8 de novembro era o dia do Fuigo Matsuri, traduzindo, a Festividade do Fole de ferreiro. “Fuigo” (鞴) ou fole de ferreiro, é uma ferramenta utilizada pelos ferreiros, composta por uma sanfona. É utilizado para alimentar o fogo, criando uma corrente de ar. O Fuigo Matsuri é a festividade dos ferreiros, dos artesãos de fundição, dos artesãos de facas, enfim, dos profissionais que utilizam o fole de ferreiro.

Esta data foi definida por iniciativa da municipalidade de Seki (província de Gifu), e oficializada em abril de 1996, por solicitação de 9 localidades produtoras de hamono. A saber: Sanjo (Niigata), Tóquio, Takefu (atual Echinzen, na província de Fukui), Seki (Gifu), Quioto, Sakai (Osaka), Miki (Hyōgo), Yoshida (atual Unnan, em Shimane) e Tosa (Kōchi).

Na municipalidade de Seki, existe o Seki Sword Tradition Museum (関鍛治伝承館, Seki Kaji Denshōkan), museu especializado em espadas (katana), hamono e objetos de ferro. No dia 8 de novembro, acontece no museu o “Hamono Kuyō”, uma cerimônia de agradecimento aos objetos cortantes.

A confecção de espadas é representada até numa peça de Teatro Nô chamada “Kokaji”. Nesta peça, ambientada por volta do ano 1000 d.C., o Imperador Ichijo ordena ao artesão de espadas Munechika Sanjō para confeccionar um katana. Sanjō diz que precisaria de alguém tão preparado quanto ele, pois uma boa espada deve ser forjada por duas pessoas martelando o ferro incandescente. Assim, ele vai buscar ajuda no Santuário Inari, onde encontra um garoto que prometeu ser o martelo secundário de Sanjō. Quando Sanjō retornou ao seu local de trabalho, surge a personificação da divindade Inari e os dois forjam a espada.

Quando falamos em hamono, podemos citar facas (“naifu” = knife), tesoura (hasami), cinzel (tyōkokutō), lâmina de barbear (kamisori), foice (kama), bisturi (mesu), além de diversas armas como o katana. Mas hoje, muitas vezes associamos ao hōtyō, traduzido como faca de cozinha.

O hōtyō mais antigo do Japão, datado do Período Nara (Século 8), está guardado no Shōsōin, na Província de Nara. As facas deste período, e até o Período Edo, tinham aparência semelhante à de katana.

O Período Edo (1603-1868) é considerado uma época de paz. Assim, muitos dos artesãos de espadas passaram a confeccionar hōtyō, além de espadas. Neste período, surgiu em Sakai, atual província de Osaka, a faca do tipo Deba, ideal para cortar peixes.

Após o “Édito de Abolição da Espada” (Haitōrei, 廃刀令), de 1876, o porte de espada foi proibido e os artesãos de espada katana viram a demanda decair. Posteriormente, com a derrota na Segunda Guerra Mundial, tornou-se proibido confeccionar espadas. Atualmente, necessita-se de habilitação nacional para realizar este trabalho.

Com a introdução da carne bovina nos hábitos alimentares japoneses na Era Meiji (desde 1968), surgiu a faca conhecida como “Santoku”, que literalmente, “vale por três”, sendo um hōtyō versátil, que serve para cortar carnes, peixes e hortaliças.

As características do hōtyō japonês é a presença de fio em apenas um lado da lâmina, o que permite cortes delicados, e um aspecto belo no alimento cortado, resultando em manutenção do sabor e textura agradável. Muitas vezes possui uma “bainha” para proteger a faca. O hōtyō deve ser afiado constantemente, sendo uma ferramenta de longa durabilidade, desde que seja feita uma manutenção cuidadosa.

Dizem que a habilidade do sushi shokunin (sushiman) é inversamente proporcional ao tamanho de sua faca. Quanto mais experiente, o shokunin passou mais tempo afiando sua faca, e aperfeiçoando sua técnica e seu espírito.

Logo, se você pretende adquirir um hōtyō japonês confeccionado de forma tradicional, não se esqueça de adquirir também o toishi (砥石), a pedra para amolar.

Desde o Período Heian (por volta do ano 860 a.C.) existe um ritual chamado “Hōtyōshiki” (包丁式). Uma cerimônia de oferenda de alimento às divindades. Manusear alimentos utilizando as mãos os tornaria algo impuro. Por isso, colocava-se o alimento (um peixe, por exemplo) sobre uma tábua grande, e o cortava utilizando apenas o hōtyō e um hashi grande. É possível assistir à este ritual no Santuário Takabe (高家神社), na municipalidade de Bōsō, Província de Chiba.

Existem alimentos que perdem o sabor quando cortados por facas feitas de metais, como alface, frutas e sardinha. O konnyaku também é um destes ingredientes incompatíveis e é por isso que o dono do restaurante rasga o konnyaku com a mão, na abertura de alguns episódios da série Midnight Diner: Tokyo Stories, disponível na Netflix. Como alternativa, existe a faca feita de cerâmica, onde destacamos a marca japonesa Kyocera.

 


 

Veja artigos anteriores em nosso site (link na bio):

3 de agosto – Dia da Tesoura (Capítulo 14)

4 de agosto – Dia do Hashi (Capítulo 15)

4 de outubro – Dia da Espada Japonesa (Capítulo 57)

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