“Que dia é hoje?” – Capítulo 47
Shimakutuba (しまくとぅば) seria “a palavra do vilarejo/povoado” na língua de Okinawa. A província de Okinawa determinou, em março de 2006, uma lei visando a preservação e divulgação destas línguas para as próximas gerações. Foi a primeira lei ligada à manutenção de língua ou dialeto local/regional a ser promulgada no Japão.
Esta data foi definida por um goroawase: 9 é “ku”. Desmembramos o 18 em 10+8. 10 é “tou” e 8 é “hachi”, neste caso transformado em “ba”. Assim, 918 torna-se “kutuba”.
A província que conhecemos hoje como Okinawa é formada por diversas ilhas e diversas culturas diferentes. Em 1429, aconteceu a unificação dos Três Reinos, dando origem ao Reino Ryukyu. Em 1609, já no xogunato de Tokugawa, aconteceu a invasão de Ryukyu pela expedição Satsuma (atual Kagoshima), e o rei Shō Nei foi levado como prisioneiro para Edo, onde ficou por dois anos.
Apesar do controle de Satsuma neste período pós-invasão, Ryukyu não era considerado parte do Japão. O povo de Ryukyu foi proibido de adotar nomes, trajes e costumes japoneses, e também a língua japonesa, para que a China não percebesse está relação de vassalagem.
Até que aconteceu a Restauração de Meiji em 1868 e, em 1879, o Reino de Ryukyu foi dissolvido, e as ilhas foram anexadas ao Japão, tornando-se a Província de Okinawa.
No Japão, ocorria uma política para fazer os japoneses abandonarem os dialetos e utilizarem a língua-padrão (標準語, hyōjyungo). O povo de Okinawa, que foi transformado em japonês de uma hora para outra, também foi submetido a este processo.
Dentro das estratégias de estabelecer o hyōjyungo, surgiu uma espécie de “castigo” a quem utilizasse o dialeto, chamado de “hōgenfuda” (方言札), uma espécie de crachá de madeira, colocado no pescoço de quem utilizasse dialetos. Este movimento para o hyōjyungo foi se intensificando em Okinawa, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, e as línguas de Okinawa (Ryukyu) foram se perdendo.
Segundo a UNESCO, as seguintes línguas de Ryukyu correm o risco de extinção: Amami, Kunigami, Miyako, Okinawan, Yaeyama e Yonaguni. O Japão possui mais duas línguas, a língua do povo Ainu (Hokkaido) e a língua de Hachijo (parte do arquipélago ao sul de Tóquio), que também fazem parte da lista de línguas em risco do Japão.
O ativista Byron Fija possui uma postura crítica quanto ao “Shimakutuba”, pois nas ilhas de Ryukyu existem cerca de 800 povoados, com línguas e culturas próprias. Ele defende que, em vez de usar a palavra “Shimakutuba”, que passaria uma ideia vaga de todas as línguas de Ryukyu, deveria focar nas seis principais línguas para preservá-las de forma objetiva.